Isabel Lessard - Caça e Caçadora

quinta-feira, 21 de abril de 2011 10:12 Postado por Bell Moraes


Meus olhos o acompanhavam pela mata escura, mas meu olfato já o tinha rastreado muito antes.
Ele era jovem e estava assustado. Eu podia sentir pelo seu aroma, pelas batidas fortes do seu coração e o barulho de sua respiração.
Naquela noite eu não faria joguinhos. O meu único prazer era brincar de gato e rato com minha presa, mas fazia uma semana que ninguém passava pela estrada ou entrava na floresta, então era plausível que eu estivesse faminta.
Saltei da árvore onde tinha me abrigado e comecei a correr em sua direção. Eu estava perto suficiente para imobilizar seus braços e estava escuro de mais para que ele conseguisse me ver. Talvez eu tenha subestimado sua audição, ou provavelmente meu cheiro estivesse insuportável, mas de alguma forma ele sentiu minha presença e desviou no exato momento em que eu me joguei em sobre seu corpo.
Um rosnado de frustração subiu por minha garganta e me virei para atacá-lo novamente e dessa vez não errei. Meu braço esquerdo se fechou ao redor de sua cintura e pude sentir seus músculos se contraírem em defesa ao meu aperto. Com a mão direita, virei seu pescoço e já estava pronta para cravar meus dentes em sua carne, mas o cheiro de seu sangue trouxe de volta a lembrança da garotinha do beco em Paris e da dor que senti após beber seu líquido vital.
Minha saliva tornou-se amarga e os pelos de meu corpo se arrepiaram. Eu ainda agia como um animal irracional, mas naquele momento eu percebi que deveria manter distancia de seu sangue, ou ele me destruiria. A natureza tem seus meios de mostrar o que é nocivo, mesmo que a carcaça seja a das mais atrativas.
Lutando contra todo o desespero e vontade de me alimentar, empurrei seu corpo para longe do meu e me afastei.
Ele ainda estava acordado e não parecia tão assustado quanto deveria estar. Ele acompanhou fixamente com os olhos cada passo que dei para trás. Nós nos estudávamos e não sabíamos mais quem era a caça e quem era o caçador.
Ele moveu seu braço e tirou algo de sua bolsa. Eu estava pronta para correr ou matá-lo, mas, ao invés de lançar uma bala em minha direção, ele apenas ergueu uma lanterna e iluminou o local onde eu estava e a descrença tomou conta de sua expressão.
Só há um momento em que certos homens gostam de ser dominados por uma mulher. Aparentemente aquele não era o momento, pois no instante seguinte sua arma estava apontada para mim.


Imagem por: Kristianas Coven

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